terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Assovio (começo).

“Ao longe, um ressonante e hipnótico assovio rasga o silêncio calmante; uma melodia de ritmo lento; um presente dos pardais  que habitam os galhos vivos das árvores robustas, cujas raízes abraçavam sem pestanejar o solo fértil que cercavam o povoado Belman.” 
            Os dois andarilhos cantarolavam com emoção o pequeno trecho pertencente à longa descrição sobre o vilarejo Belman, enquanto caminhavam pelos terrenos desertos de Lugar Nenhum.
            — Estou conseguindo sentir o doce aroma das maçãs recheadas!  — disse Vincent  mantendo um olhar sonhador.
            — Consigo avistar as pequenas casas humildes do povoado. — cantarolou Lupos, caminhando de olhos fechados.
            — Continuem a pensar em Belman, e jamais chegaremos lá! — interpôs Bukhard com severidade.
            Nenhum dos dois parecera ouvir o terceiro, pois continuavam a dizer coisas incríveis sobre o povoado.
            O pequeno grupo, formado por três pessoas — antes eram vinte, mas ao adentrarem no bosque da depressão, os dezessete companheiros acabaram delirando e matando uns aos outros — haviam percorrido um longo caminho até as terras de Lugar Nenhum, um lugar onde não há nada. É como se você, de repente, estivesse vagando por uma folha de papel branca.
Lugar Nenhum é como se fosse a divisa entre o mundo real e o mundo fantástico. Poucas pessoas conseguiram fazer a ida e voltar, e muitas jamais saíram de Lugar Nenhum, pois para chegar até a o mundo fantástico, o individuo deve esvaziar a mente; esquecer completamente o que realmente há após a divisa. Não é nada fácil manter a mente vazia, ainda mais quando estamos cientes de que poderemos passar a eternidade em um lugar solitário.
— Fiquem quietos! — insistiu Bukhard. — Parem com essa idiotice!
Vincent deixou escapar uma desdenhosa gargalhada e disse:
— Fiquem quietos! Parem com essa idiotice! Aqui pra você. — finalizou o delirante Vincent fazendo um gesto obsceno com a mão.
Lupos riu.
 Bukhard não saberia dizer quanto tempo estavam presos nos terrenos amargurados de Lugar Nenhum, e tentava não pensar a respeito, ou acabaria como os descuidados. Poderia muito os abandonar e prosseguir seu trajeto, mas como, infelizmente, era o irmão mais novo do trio, não poderia simplesmente deixá-los naquele lugar.
— Tente imaginar as meretrizes. — comentou Lupos sorridente.
— Ah sim, pequeninas fadas entrando... — mas antes que pudesse terminar qualquer coisa, de extrema perversão, Bukhard deu-lhe uma bofetada com seu cajado, deixando o irmão mais velho imóvel.
Lupos parou abruptamente ao lado do inconsciente Vincent.
— Continue a falar sobre o assunto e dou-lhe uma! — ameaçou Bukhard, agarrando os braços de Vincent e o arrastando.
Lupos nada mais disse ou imaginou.
Conforme iam avançando, o efeito escaldante e tentador de preencher a mente com imagens sobre o mundo fantástico tornavam-se mais insuportável, o que, por um lado, era um bom sinal. Há muitos dias, os três toparam com um velho viajante, em uma taberna, que dizia ser o um dos homens a retornar de Belman, e, sabendo que os irmãos pretendiam ultrapassar Lugar Nenhum, os informou que quando o feitiço ficasse mais forte, significava que estavam próximos do fim da divisa.
De repente — passara menos de quatro minutos, mas para Lupos e Bukhard foram horas, graças ao feitiço —, a névoa começou a dividir-se, como se alguém estivesse empurrando uma cortina, revelando um glorioso cenário montanhoso...
(continua).

4 comentários:

  1. Ansioso para ler o resto!!! Abraço

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  2. Wow, muito interessante. Gosto muito do seu estilo, da sua imaginação. De verdade, muito bem-feito. Publique mais logo.

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    1. Valeu mesmo, postarei amanhã a segunda parte da história!

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    2. ei arthur não se esquece de recomendar e entrar no meu blog vlw? http://www.reignofrandomness.blogspot.com.br/

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